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Sino-dependência ou super-ciclo de commodities?


21/08/2021 Sino-dependência ou super-ciclo de commodities?

 

Anais Fernandes (Valor, 28/07/21) informa: a retomada das economias locais, a desvalorização do real e a possibilidade de brechas nas cadeias globais têm ajudado as exportações brasileiras a ganhar terreno nos países latino-americanos em 2021, sobretudo pela venda de bens duráveis e de capital, como veículos e máquinas. Pode ser um movimento importante para a manufatura nacional, que perdeu espaço nos últimos anos com as vendas chinesas à região, mas o cenário ainda é de muitos desafios para que se possa pensar em uma recuperação estrutural desses mercados, dizem especialistas.

No geral, os embarques brasileiros aos pares latino-americanos cresceram no primeiro semestre deste ano mais pelo aumento do volume comercializado do que pela alta nos preços, diferentemente do que é observado nas exportações como um todo. De janeiro a junho de 2021, o volume exportado pelo Brasil cresceu 6,6%, ante igual período de 2020, enquanto os preços avançaram 25,2%.

Entre os latino-americanos, porém, o crescimento do volume exportado foi de 42,4% para a Argentina (com alta de 7,1% nos preços) e de 36% para outros países da América do Sul (7,9% nos preços). Ao México, o volume avançou 18,5%, e os preços, 17,9%. Enquanto isso, para os Estados Unidos e a União Europeia, o crescimento em volume foi menor, de 15,4% e 4,9%, pela ordem. Para a China, houve até pequena queda (2,6%), e o ganho de participação do país, para 34,4% das exportações brasileiras no período, é explicado mais pela alta de quase 39% nos preços. Os dados são do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

Argentina (3o), Chile (6o) e México (10o) são os países da América Latina entre os dez principais destinos dos embarques brasileiros em 2021, em valores, segundo dados do governo federal. Eles estão também entre as dez nações com as maiores variações absolutas nas exportações do primeiro semestre de 2020 para 2021.

As vendas à Argentina aumentaram US$ 1,9 bilhão, para US$ 5,6 bilhões, atrás apenas de China (US$ 46,8 bilhões) e EUA (US$ 13,3 bilhões), que são os dois países com maior crescimento interanual absoluto. As exportações ao Chile ganharam US$ 1 bilhão, somando US$ 2,7 bilhões, e o México avançou US$ 708 milhões, para US$ 2,4 bilhões.

A maior presença dos latino-americanos na pauta exportadora brasileira em 2021 está relacionada ao crescimento das vendas externas da indústria de transformação, já que esses países são mercados tradicionais para o segmento. “Claro que agricultura e indústria extrativa são o consenso, mas, neste ano, há, realmente, avanço nas exportações da indústria da transformação”, diz Lia Valls, pesquisadora associada do FGV Ibre e responsável pelo Icomex.

Entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, a exportação na indústria de transformação cresceu 10,4% em volume e 10,9% nos preços, aponta o Icomex. Como comparação, os volumes das vendas externas na agropecuária e na indústria extrativa subiram 1% e 8%, pela ordem, mas os preços saltaram 21,7% e 62,5%, respectivamente.

Parte do ânimo exportador da indústria local vem do câmbio, que deixou o produto nacional mais competitivo. “Desde 2020, vimos uma forte desvalorização e sabemos que, em bens industriais, os efeitos não são automáticos, leva um tempo para sentir”, diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O câmbio pode ajudar bastante, mas muitos desses pares latinos que compram do Brasil são, na outra ponta, exportadores agrícolas e também têm se beneficiado do aumento das receitas com a venda de commodities, o que ajuda a bancar importações. Além disso, a economia em certos países se recupera acompanhada de avanços na vacinação e melhora da pandemia, o que sustenta a demanda. Mesmo a piora que houve no início de 2021 não trouxe, do ponto de vista econômico, as mesmas incertezas do ano passado.

Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV Ibre e sócio da BRCG, pondera que, na comparação interanual e entre países, existem os fatores da baixa base de comparação e do “timing” da pandemia pelo mundo. “A nossa crise latino-americana foi, talvez, mais profunda. Com a retomada – da forma que for, com controle sanitário ou não -, faz sentido que a variação interanual seja maior onde os choques também foram maiores no ano passado. Não é uma surpresa que a América Latina apareça, nessa comparação, de maneira relevante”, afirma ele.

Especialistas levantam ainda a hipótese de que, com a desorganização das cadeias globais por causa da covid-19, o Brasil poderia estar atuando de forma a complementar uma oferta que não chega à América Latina pelos caminhos convencionais.

Por categorias de uso, as exportações são impulsionadas por bens de consumo duráveis, principalmente do setor automotivo, e de capital. Levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) mostra: as exportações do ramo à América Latina cresceram, em valores, 48% no primeiro semestre deste ano, ante 2020, que foi um ano atípico. Mas, mesmo em relação a 2019, houve alta de 12,7%.

Os números sinalizam, sim, uma recuperação das exportações do setor para a América Latina, mas ainda não se pode dizer se fechará melhor do que o pré-pandemia e, provavelmente, não chegará ao melhor momento de 2017.

Em relação ao segmento automotivo, a cadeia passou parte de 2020 parada e foi muito prejudicada pela crise sanitária. Somados, Argentina, Chile, Colômbia, Peru, México, Uruguai e Paraguai representavam 93,6% das exportações brasileiras do setor no primeiro semestre de 2021, vindo de 82,2% em 2020, segundo dados compilados pelo FGV Ibre.

O crescimento reflete mais essa retomada do que qualquer outra coisa, embora o setor também enfrente problemas com falta de componentes. O distanciamento social pode ter impulsionado a demanda por transporte individual.

Ainda que a reativação de mercados latino-americanos possa ser importante para a manufatura nacional, os especialistas reforçam que não há sinais de mudança estrutural. O grau de dependência das commodities e da China aumentou. A América do Sul, por exemplo, já teve participação mais importante na pauta brasileira.

Juntos, os principais destinos dos embarques do Brasil na América Latina (Argentina, Chile, México, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai e Bolívia) somavam US$ 16,6 bilhões em exportações (12% do total) no primeiro semestre de 2021, segundo dados do governo brasileiro. É um avanço em relação à participação de 11% em 2020, mas abaixo dos 15% de 2019. Voltar ao que era no passado é difícil, porque a gente concorre com chineses agora.

“Não há preço competitivo, produtividade, financiamento. Temos dificuldade de concorrer”, afirma o presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Mesmo no curto prazo, pairam dúvidas, por exemplo, sobre como a demanda entre os países latino-americanos pode evoluir considerando a propagação da variante delta do coronavírus pelo mundo e da lambda na região andina. Tem de ver se isso vai forçar novas rodadas de isolamento social, de que forma a questão sanitária pode embaralhar a discussão de retomada mais sólida das economias.

As altas consistentes nos preços dos produtos agropecuários nos últimos anos ainda não são suficientes para caracterizar a formação de um novo superciclo das commodities, na opinião de economistas e analistas de mercado que debateram o tema em um seminário virtual da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ontem.

Mas, segundo eles, como as projeções apontam para uma mudança de patamar nas cotações em relação ao período pré-pandemia, é preciso que o governo adote ações necessárias para transformar o “boom” de grãos e carnes em prosperidade econômica para o país.

O economista Otaviano Canuto, membro sênior do Policy Center for the New South e ex-vice-presidente do Banco Mundial, disse: o Brasil precisa “fazer o dever de casa” e aproveitar a alta de preços das commodities para alavancar o crescimento econômico em geral. “Se não fizermos nada para destravar o péssimo ambiente de negócios e a carência de investimentos em infraestrutura, esse boom de commodities não se traduzirá em prosperidade mais ampla no país. É cedo para afirmar se o mundo vive ou não um novo superciclo das commodities.

Conforme Canuto, a alta das cotações agrícolas pode gerar desafios, como a imposição de barreiras comerciais, e cobranças na área ambiental podem surgir. “A imbricação da agenda comercial como resposta à evolução dos preços das commodities e dos países vai definitivamente trazer muita coisa para debaixo do cobertor. Temos que prestar atenção nisso. Temos que mostrar sinais claríssimos de contenção do desmatamento na Amazônia para que isso não acabe contaminando o resto da produção de commodities agrícolas brasileiras”. Canuto apontou, ainda, também haver risco de reação popular com o aumento do custo de vida e da cesta de consumo do brasileiro.

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, concordou com a análise e disse que o país precisa avançar no arcabouço institucional para que esse ciclo de alta não gere apenas um “voo de galinha” em termos de crescimento econômico. Ele acredita na reversão parcial dos aumentos de preços das commodities agrícolas nos próximos anos, “para patamares bem diferentes do que vimos no superciclo de 1999 a 2011”, impulsionado pela ascensão da China.

Existe ao menos um “mini ciclo das commodities” de dois anos que poderá se estender em caso de frustrações de safra. Há uma “mudança de degrau” das cotações – que “não vão ficar no nível atual para sempre”, mas dificilmente retornarão aos patamares de anos atrás no curto prazo.

Se houver normalização da produção, não tem superciclo e o cenário se acalma. Para ter ciclo de alta, a oferta teria de ter novos problemas, uma sequência de perdas que não é possível prever agora. O ambiente de rentabilidade dos grãos deve impulsionar a expansão de área e de produção.

O aumento de custos para safra 2021/22 não impedirá o aumento da área plantada tanto de soja como das safras de verão e de inverno de milho. Teremos área maior, preços remuneradores e com margem positiva para 2022. Muito provavelmente a lucratividade será menor do que em 2021, mas mesmo assim positiva.

Na pecuária, a tendência é de “superciclo” puxado por fatores como o crescimento da China, o preço dos grãos e a redução no abate de bovinos no Brasil. Na opinião de Lygia Pimentel, fundadora e diretora-executiva da Agrifatto, existe a possibilidade de uma “segunda onda” de alta nos preços mundiais da carne suína, o que sustentará as cotações das proteínas animais por mais tempo.

“Existem duas teorias: uma é que o rebanho [suíno chinês] começou a se recompor, e a outra é que os produtores estão com tanto medo da peste suína africana que estão forçando suínos na linha de abate para receber menos, mas receber alguma coisa”, afirmou. Possivelmente, está se formando uma segunda onda para a carne suína que vai levar todas as demais carnes consigo.

O crescimento econômico chinês também sustenta a alta das proteínas animais. A China apenas começou a consumir carne bovina. A redução do abate e da disponibilidade de animais vão pressionar ainda mais o cenário altista para a pecuária bovina. A China está demandando mais e a gente tem menos a oferecer, o que forma o superciclo, essa é a característica.

 

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