A Kepler Weber desenvolve atividades operacionais e industriais de produção de sistemas de armazenagem e conservação de grãos (silos, secadores, máquinas de limpeza e seus componentes), instalações industriais, terminais portuários, peças de reposição e serviços de assistência técnica. Em conformidade com os resultados do 2º trimestre de 2021, os últimos divulgados, a companhia reportou uma receita líquida de R$ 242,7 milhões, com um crescimento de 158,2% comparado ao mesmo período de 2020; um EBITDA Ajustado de R$ 24 milhões, com um crescimento de 224,3%, apresentando uma Margem EBITDA Ajustada de 9,9%; e um Lucro Líquido Ajustado de R$ 13,5 milhões, com um crescimento de 582,1%, apresentando uma Margem Líquida Ajustada de 5,6%. Os resultados do 3º trimestre serão divulgados no próximo dia 27 de outubro, depois do fechamento do mercado.
Nesta Conversa com Investidor, Paulo Polezi, CFO da Kepler Weber, conversou com Werner Roger, sócio e gestor da Trígono Capital.
Quais desafios a empresa enfrenta atualmente para suas operações? Eles estão mais ligados à cadeia de suprimentos, aos impactos relacionados à Covid que prejudicam a manufatura ou às atividades comerciais?
Do ponto de vista da cadeia de suprimentos, o fornecimento do aço, nossa principal matéria prima, está praticamente normalizado. É importante dizer que a Kepler Weber conseguiu se organizar para garantir seus prazos de entrega durante toda a pandemia em função da escassez de diversos componentes no mercado. Isso foi possível porque contamos com fornecedores parceiros e estratégicos que, em conjunto com análises de cenários, nos possibilitaram antecipar compras e reforçar os nossos estoques antes que o problema se agravasse.
Apesar de a Covid-19 ter sido um enorme desafio para todo planeta, os protocolos de segurança adotados pela companhia nas duas unidades industriais (Panambi/RS e Campo Grande/MS) permitiram seguir com as operações em segurança. Quanto ao agronegócio, os números continuam recordes no campo e o preço das commodities em alta, o que nos permite seguir com o projeto de expansão dos negócios da Kepler Weber no Brasil e no exterior, já que temos negócios com mais de 50 países.
A nível de produtor rural, porque é tão baixo o uso de silos nas propriedades de fazenda? Isso é mais ligado à cultura ou à capacidade de investimento? Como endereçar isso?
No Brasil, até bem pouco tempo, havia uma cultura no campo de que era preciso investir na compra de mais terras para seguir ampliando a produção. Com o advento das novas tecnologias, o agricultor manteve investimentos em maior produtividade, mas sem precisar avançar sobre fronteiras agrícolas. Isso representa um marco de mudança cultural.
É neste contexto que o pós-colheita entra no radar dos produtores, já que unidades de beneficiamento e armazenagem de grãos dentro das fazendas representam um ganho de lucratividade na ordem de 15%. Quem tem unidades na fazenda consegue negociar melhor o produto, porque escapa do preço de balcão, pago no auge da safra, e reduz custos de transportes ao conseguir transportar os grãos no período do ano com menor pressão sobre a logística do país.
Esta transformação cultural é um processo. A Kepler Weber tem atuado para levar soluções, com tecnologia embarcada, e facilitar o acesso do produtor aos melhores equipamentos.
Tendo em vista o déficit de quase 100 mm de toneladas de capacidade estática de armazenagem e novos usuários como ferrovias, portos e etanol de milho, como o país poderá deixar de ser refém desse enorme gargalo inclusive de natureza logística?
Há um cálculo feito pela Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG) da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), que traduz em reais os investimentos necessários para zerar este déficit na armazenagem no Brasil. Seriam necessários cerca de R$ 10 bilhões por ano, durante dez anos, para zerar o déficit até 2030. Hoje, o país não tem estrutura suficiente para estocar uma safra inteira, o que representa um risco à segurança alimentar da população.
Com as commodities valorizadas, produtores têm feito investimentos com recursos próprios para comprar unidades de beneficiamento e armazenagem, o que representa um movimento importante para ampliar a capacidade de armazenagem. Nesta safra (2021/22), o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), linha de crédito para financiar as unidades pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), ampliou o orçamento para R$ 4,12 bilhões. O Banco do Brasil e o New Development Bank (NDB), banco de desenvolvimento dos Brics, também anunciaram um entendimento para destinar mais R$ 1,5 bilhão para construção de armazéns. São esforços que se somam para ampliar a nossa capacidade de guardar o que se produz.
Como o uso de tecnologia poderá ajudar a Kepler Weber no desenvolvimento de novos negócios? A companhia continua buscando novas oportunidades através de parcerias ou aquisições de startups?
A companhia está atenta às novidades e à inovação que possam agregar valor aos projetos da Kepler Weber. A veia tecnológica sempre fez parte do DNA da empresa, e a implantação da Plataforma Sync, em 2019, é prova disto. Adicionalmente, investimos na compra da Seletron, adquirindo a marca e a tecnologia para selecionadoras ópticas de grãos que possui forte sinergia com os negócios da Kepler. Por fim, continuamos desenvolvendo novos produtos, como sensores e secadores mais eficientes, e agora estamos criando uma unidade de negócio focada em internet das coisas (IoT). Abre-se um novo universo de possibilidades, agregando valor e transformando os dados gerados nas unidades armazenadoras em ativos e garantias em favor dos produtores rurais em negociações.
A armazenagem 4.0 também representa economia à operação, tornando o beneficiamento e a armazenagem mais eficientes e rentáveis.