A indústria de máquinas e equipamentos do país prevê um novo ano de expansão do faturamento, na faixa de 5% a 6%, apesar de ter encerrado o primeiro semestre com desempenho negativo frente ao mesmo período do ano passado. Está longe da alta de 21% obtida em 2021, mas é visto como um bom ano para a indústria de bens de capital - o quarto de crescimento após a longa crise de 2014 a 2018.
Com essa expectativa, baseada numa carteira de encomendas de máquinas e equipamentos alta nas empresas e num índice de ocupação da capacidade fabril instalada de 80%, João Carlos Marchesan, presidente do conselho diretor da ABIMAQ, depois de seis anos de gestão, está passando o cargo hoje ao vice-presidente Gino Paulucci Júnior, para o período de 2022 a 2026.
Paulucci é empresário do segmento de máquinas para fabricação de embalagens plásticas. Radicado em Bauru, no interior de São Paulo, é sócio na Polimáquinas, que produz para o mercado interno e para exportação.
“Entrei no auge da crise econômica do país, em 2016. Foram anos difíceis enfrentados pela indústria de máquinas e equipamentos, que só retomou a recuperação em 2019”, disse Marchesan ao Valor. O empresário de Matão (SP) atua com produtos para o setor de agronegócio - implementos e máquinas agrícolas -, fabricados pela Marchesan.
Um dos pontos críticos na visão dos dirigentes da ABIMAQ é a perda de força da indústria de transformação brasileira, que ficou, ao final do ano passado, em 11% do PIB. Com olhar mais amplo, a avaliação é que o país precisa de agendas estruturais, ou transversais, como as reformas que vão ficando para trás, e não apenas de agendas setoriais, destaca José Velloso, presidente-executivo da ABIMAQ, que continuará na nova gestão.
Segundo o executivo, “puxadinhos não resolvem o problema, só tira o efeito do mal maior”.
Em um cenário de eleições presidenciais, com dois meses de intensa campanha à frente, a ABIMAQ levou aos principais candidatos um documento com uma lista de itens como a proposta do setor. O mote é a reconstrução da indústria. “Já convidamos os quatro principais candidatos [Bolsonaro-PL; Lula-PT; Ciro Gomes-PDT e Simone Tebet-MDB] para dialogar com os associados na sede da ABIMAQ”, disse Marchesan. A entidade tem 1,7 mil empresas filiadas.
Os principais pontos da contribuição da indústria de bens de capital aos candidatos são: agenda de competitividade, combate ao custo Brasil, reformas necessárias (tributária, administrativa e outras), agenda de leis complementares e marcos regulatórios (segurança jurídica ao investidor no país), aprimorar o ambiente de negócios local, uma política de fomento industrial (financiamentos em condições às empresas), entre outras propostas. “É isso que o Brasil precisa”, afirmam.
Na questão de crédito às empresas do setor, Velloso disse que é quase impossível tomar dinheiro do BNDES/Finame para investir, com uma taxa de juros de 18% a 20% ao ano. “Cerca de 80% das vendas de máquinas o pagamento é com capital próprio do adquirente por falta de uma política compatível de financiamento”.
No ano passado, diz, foram só R$ 2 bilhões do Finame, para um setor que faturou R$ 310 bilhões.
Em termos de desempenho do setor, a expectativa é otimista para o ano. “Crescemos até maio, mas em junho tivemos queda na receita líquida, o que nos levou a um recuo de 3,7% no semestre ante mesmo período de 2021”, informou Velloso. O consumo aparente registrou queda de 7,3%.
Os dirigentes da ABIMAQ observam que, apesar dos crescimentos em 2019 (5%), 2020 (10%) e 2021 (21%), o setor ainda não recuperou toda a perda acumulada desde 2014 - cerca de 40%.
As vendas neste ano, informam, estão sendo puxadas por máquinas e implementos agrícolas, máquinas rodoviárias, setores de infraestrutura, saneamento, plásticos, cimento, mineração e outros. “Nossa carteira de pedidos corresponde a 12 semanas, o que está muito bom”, diz Velloso.
As exportações estão crescendo, mas poderiam estar melhores. Num período de 12 meses, desde julho de 2021, o crescimento é de 37%. Os embarques representam 20% do faturamento, mas já foram de 25% a 30%, e a meta é voltar a esses patamares. O setor tem exportado US$ 11 bilhões ao ano. “Somos o maior exportador da indústria no país”.
Hoje, dizem, 56% dos associados da ABIMAQ vendem ao exterior, após um longo trabalho feito com a APEX (agência de promoção), visando desmitificar o mercado externo para as empresas. Um grande problema da indústria é o custo Brasil, que atinge 23,3% do PIB nacional nos cálculos da ABIMAQ.
De janeiro a junho, a receita líquida do setor somou R$ 150,58 bilhões - em doze meses, o valor foi de quase R$ 317 bilhões. O consumo aparente de máquinas e equipamentos atingiu R$ 187,5 bilhões e R$ 394 bilhões, respectivamente, nos mesmos períodos.
Fonte: Valor Econômico