O agronegócio brasileiro é um dos pilares da economia nacional e se tornou fundamental para a segurança alimentar global. No entanto, mesmo com recordes sucessivos na produção agrícola, o país enfrenta um problema estrutural que compromete a eficiência e a sustentabilidade do setor: o déficit de armazenagem nas propriedades rurais.
A falta de silos e estruturas de armazenagem adequadas tem impactos diretos na estocagem dos grãos, no escoamento da safra e na rentabilidade do produtor, além de comprometer a segurança alimentar e pressionar a inflação de alimentos.

Neste artigo, vamos conhecer as causas e consequências desse gargalo logístico, apontar os caminhos possíveis para solucioná-lo e reforçar a importância de políticas públicas e linhas de financiamento voltadas ao fortalecimento da capacidade de armazenagem no Brasil.
Nos últimos anos, a produção agrícola brasileira tem batido sucessivos recordes, impulsionada por investimentos em tecnologia, profissionalização no campo e condições climáticas favoráveis.
Contudo, essa evolução não tem sido acompanhada pela expansão da infraestrutura de armazenagem de grãos.
De acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), o Brasil possui uma capacidade de armazenagem inferior à produção total de grãos, com um déficit que supera 100 milhões de toneladas.
Essa lacuna estrutural obriga grande parte da produção a ser escoada imediatamente após a colheita, sem que o produtor tenha a opção de estocar seus grãos e aguardar melhores condições de mercado.
Isso o torna vulnerável à volatilidade de preços, além de pressionar, de forma intensa, os sistemas de transporte e logística do país.
A ausência de estruturas adequadas de armazenagem nas propriedades rurais desencadeia uma série de problemas interligados:
Grãos estocados de maneira incorreta ou em ambientes inadequados perdem qualidade, sofrem com a umidade, infestações de pragas e micotoxinas, resultando em perdas econômicas e riscos à segurança alimentar.
A colheita concentrada em poucos meses do ano gera uma corrida por transporte e armazenamento terceirizados. Isso sobrecarrega rodovias, portos e armazéns públicos e privados, elevando custos logísticos e provocando gargalos no escoamento.
A falta de armazenagem força a venda imediata da produção, reduzindo o poder de negociação do produtor e influenciando na formação de preços ao consumidor.
Quando há perdas ou dificuldades de transporte, o impacto pode chegar diretamente à mesa do brasileiro.
Em um mundo que ainda enfrenta fome e má distribuição de alimentos, permitir que toneladas de grãos se percam por falta de estocagem adequada é um problema grave.
O investimento em silos e armazenagem é essencial para garantir a conservação dos alimentos e a estabilidade do abastecimento interno.
Ter estruturas de armazenagem na própria fazenda traz uma série de vantagens para o produtor rural:
Apesar de todos esses benefícios, o alto custo de implantação ainda é um entrave para muitos produtores. Neste sentido, as políticas públicas exercem um papel estratégico.
O acesso a linhas de crédito é fundamental para que os produtores consigam investir em silos e estruturas de armazenagem em suas propriedades.
O Plano Safra do governo federal desempenha papel essencial, especialmente por meio do PCA – Programa para Construção e Ampliação de Armazéns.
O PCA oferece linhas de crédito com condições diferenciadas para financiar a construção de armazéns, promovendo o aumento da capacidade de armazenagem em áreas rurais.
Ainda assim, os recursos disponibilizados anualmente têm se mostrado insuficientes diante da demanda. É urgente a ampliação dos limites de crédito e a simplificação dos processos de acesso ao financiamento, especialmente para médios e pequenos produtores.
Além disso, a coordenação entre setor público e privado, aliada ao fomento de tecnologias nacionais de armazenagem, pode reduzir custos e acelerar a implantação dessas estruturas em todo o território nacional.
Ampliar a capacidade de armazenagem no campo não é apenas uma questão econômica ou logística. É uma estratégia essencial para garantir a soberania alimentar, reduzir o desperdício e promover o desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro.
Investir em armazenagem nas fazendas é garantir:
Diante de uma produção agrícola que tende a crescer ainda mais nos próximos anos, a capacidade de armazenagem precisa deixar de ser um obstáculo da cadeia e se tornar um dos pilares da competitividade do Brasil no cenário global.
O déficit de armazenagem é um dos maiores desafios do agronegócio brasileiro atualmente. Suas consequências afetam não apenas o produtor, mas toda a sociedade — seja por meio da inflação de alimentos, da insegurança alimentar ou das perdas na cadeia de produção.
A solução passa, necessariamente, por investimentos em infraestrutura, especialmente dentro das propriedades rurais, e pelo fortalecimento de políticas públicas como o PCA.
Também exige o engajamento de entidades do setor, da indústria de equipamentos e de todos os elos da cadeia agroalimentar para promover um modelo de produção mais eficiente, sustentável e seguro.
Para se aprofundar no tema e conhecer as soluções que podem levar a um aumento da capacidade de armazenagem nas propriedades, assista à gravação do evento da ABIMAQ sobre “Tecnologia agrícola na oferta de alimentos e controle da inflação”, disponível no YouTube.
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Paulo Bertolini é presidente da Câmara Setorial de Equipamentos para Armazenagem de Grãos (CSEAG) da ABIMAQ, formado em Medicina Veterinária pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e possui ampla experiência em gestão agroindustrial. |
