Os grandes consumidores de aço no Brasil reclamam do aumento de preços e problemas de abastecimento da matéria-prima, provocados pela paralisação de atividades das siderúrgicas por causa da crise da pandemia. O setor da construção civil responde por 41,2% do total, enquanto que o automotivo consome 21,3% e o de bens de capital, 19,6%.
O consumo aparente de produtos siderúrgicos foi de 18,8 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a agosto, alta 41,7% em relação ao mesmo período de 2020. `O crescimento de agora não parece sustentável para os próximos doze meses. O cenário está mudando`, diz Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), com cerca de 50 mil empresas associadas.
O setor se queixa da elevação do preço do aço. Em um ano, fechado em agosto, o aumento da matéria-prima chegou 3 84,32%. O item que mais subiu foi o vergalhão, o principal insumo de aço da construção, usado na fabricação de concreto armado. A solução foi aumentar a importação. No primeiro semestre, foram 168 mil toneladas importadas, principalmente da Turquia, segundo o Sinduscon.
No setor de máquinas e equipamentos, a solução para driblar a inflação do aço também passa pela importação. A do aço plano, o mais utilizado na indústria, mais que dobrou, de 80 mil toneladas para 165 mil toneladas de janeiro de 2020 até agosto de 2021. Mesmo com desvalorização do real, o aço importado chegou a ficar 20%
mais barato do que o nacional, que bateu a marca de 170% de aumento médio com a capacidade produtiva das usinas reduzida e altos-fornos desligados por causa dos impactos da pandemia de covid-19.
`Em março e abril deste ano houve total desabastecimento de aço e aumento do preço chegou a 140%`, afirma José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), que representa 9.000 empresas de diferentes setores. Há queixa também sobre dificuldades de abastecimento quando as siderúrgicas retomaram a produção. Ainda assim, o setor de máquinas e equipamentos está consumindo 39% mais aço do que em 2020. Mas não arrisca previsão para 2022, por conta dos reflexos da política na economia.
`O cenário piorou. Não dá para crescer sem investimento público`, diz Igor Rocha, diretor de planejamento e economia da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que reúne 120 empresas públicas e privadas. O setor prevê que 2022 será igual a 2021, mas com viés de baixa. O consumo também deve ser inferior ao deste ano, a menos que se criem estímulos na economia.
O setor registrava relativa estabilidade depois do primeiro impacto da pandemia. A perspectiva de deterioração global e a queda de investimentos públicos desde 2014 mudaram o cenário para pior. Falta de escala de projetos, desarranjo na estrutura de produção com atraso no abastecimento de aço e ruídos políticos são apontados como fatores que limitam o otimismo.
As exportações e o segmento de caminhões têm salvado o ano do
setor automotivo, o segundo maior consumidor de aço no Brasil. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o setor fechou 65 plantas e 5.200 concessionárias - o que impacta no consumo de aço. Em 2013 foram produzidos 3,1 milhões de veículos. No ano passado, apenas l ,84 milhão.
O problema maior agora é escassez de semicondutores. Ainda assim, e apesar das paralisações totais ou parciais de 11 fábricas em agosto, o esforço logístico das montadoras permitiu que a produção de 164 mil unidades no mês superasse em 0,3% o volume de julho. Segundo o levantamento mensal da Anfavea, houve queda de 21,9% na produção em relação a agosto de 2020, quando ainda não havia falta de componentes eletrônicos.
Mesmo em um cenário negativo, o Instituto Aço Brasil, que representa a indústria siderúrgica nacional, estima que o consumo interno de aço este ano serão 24% maior do que em 2020. De janeiro a agosto, o consumo interno aparente de produtos siderúrgicos foi de 18,8 milhões de toneladas-aumento de 41,7% em relação aos primeiros oito meses de 2020.
O setor reconhece um desbalanceamento das cadeias produtivas no abastecimento depois do primeiro impacto crítico da crise sanitária, mas atribui o aumento de preço do aço a um fenómeno mundial de valorização das commodities. `O mercado está plenamente abastecido, os estoques regularizados e os preços, que sofreram aumento, agora tendem à estabilidade`, afirma Marco Polo de Mello Eopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.