Grupo assina carta que será entregue ao governo com posicionamento claro sobre medidas que esperam ver na CoP 26, em Glasgow, e em decisões no país
Um grupo formado por 120 CEOs e presidentes de grandes empresas e lideranças de dez entidades de classe assinou uma carta que será entregue ao governo com posicionamento claro sobre ações que esperam ver na CoP de Glasgow, em novembro, e em decisões no país.
`Às vésperas da CoP de Glasgow, o momento é de ação, com vistas a evitar o aquecimento global para além de 1,5° C`, dizem. As empresas já vêm adotando medidas para a redução e compensação das emissões de gases-estufa, precificação interna de carbono, descarbonização das operações e cadeias de valor, investimentos em tecnologias verdes e estabelecimento de metas de neutralidade climática até 2050, diz a carta dos Empresários pelo Clima, lançado ontem.
A carta foi elaborada pelo Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), entidade que reúne 60 dos maiores grupos empresariais do país. `A iniciativa surgiu de uma demanda dos empresários que querem ser ouvidos`, diz Marina Grossi, presidente do Cebds. A primeira versão foi entregue ao presidente da CoP 26, Alok Sharma, durante visita ao Brasil no mês passado. Será entregue aos ministros Tereza Cristina (da Agricultura), Joaquim Pereira Leite (do Meio Ambiente) e Paulo Guedes (Economia).
Foi assinada por CEOs e presidentes como Otavio Carvalheira (Alcoa), Judiney Carvalho de Souza (Amaggi), Marc Reichardt (Bayer), Octavio de Lazari Júnior (Bradesco), Paulo Sousa (Cargill) e Francisco Gomes Neto (Embraer), Cláudio Raupp Fonseca (HP), Stéphane Maquaire (Carrefour), Marcelo Castelli (Votorantim Cimentos), Gilberto Tomazoni (JBS) e entidades como Venilton Tadini (Abdib) e José Velloso Dias Cardoso (ABIMAQ-Sindimaq).
`Uma transição célere para o baixo carbono é possível e desejada pelo setor produtivo brasileiro. Segundo estudo recente, apoiado pelo Cebds, é possível reduzir as emissões em até 42% no Brasil já em 2025, em relação a 2005`, dizem os signatários.
`O Brasil perde sem uma clara política de conservação dos nossos biomas. A agricultura, a bioenergia, a energia hidráulica dependem do regime de chuvas`, diz André Clark, CEO da Siemens Energy Brasil. `A CoP 26 será um palco ou um muro para o país`, segue. `É uma grande oportunidade, mas o setor privado vê o posicionamento errático do governo neste tema com preocupação.`
Os empresários dizem que para atingir a meta de corte de 42% em 2025 `são importantes os avanços` do RenovaBio, assim como a política de pagamento por serviços ambientais (PSA), o futuro mercado regulado de carbono no Brasil, soluções baseadas na natureza e `o esforço para o reconhecimento global da contribuição brasileira para a mitigação das emissões líquidas de gases-estufa`.
`Consideramos crucial o aprofundamento da discussão entre o setor privado, a sociedade civil e o governo brasileiro sobre a posição brasileira em relação ao Artigo 6 do Acordo de Paris`, dizem.
Pedem `objetivos climáticos ambiciosos`, dizem que os compromissos brasileiros (conhecidos pela sigla NDC) devem ser uma contribuição `relevante` e `não condicionada` a recursos internacionais. Recomendam que o Brasil tenha papel de `construção de consensos internacionais`, sob pena de `enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade`.
Os empresários apoiam as iniciativas da ONU baseadas em conceitos científicos conhecidos por Science Based Targets e as práticas de transparência financeira da Task-Force on Climate Related Financial Disclosures.
Mencionam também `o combate integral e inequívoco ao desmatamento ilegal` da Amazônia e de outros biomas.
`É preciso, ainda, a adoção de regras que possibilitem o desenvolvimento de mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil - com práticas de transparência na contabilização das emissões e sua conexão com mercados mundiais, assegurando a qualidade ambiental e integridade dos créditos de carbono a serem comercializados e cooperando para a criação de um mercado de carbono global`, defendem os empresários.
`Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil`, concluem.