Por medo de apagão e racionamento de energia, pessoas físicas e jurídicas compraram 129% mais unidades no segundo trimestre
Se vai faltar energia no país nos próximos meses, ainda não se sabe. A escassez de geradores no mercado, no entanto, é certa.
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De acordo com profissionais do setor, a procura por esses motores, que evitarão que casas, comércios e indústrias fiquem às escuras se faltar eletricidade, aumentou em torno de 40% neste ano e a tendência é que a procura cresça caso as chuvas teimem em não cair no país.
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O presidente da Câmara Setorial de Motores e Grupos Geradores da ABIMAQ(Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos) .Reinaldo Sarquez, acredita que é praticamente inevitável o desabastecimento. "As pessoas ficam vendo as notícias sobre possível apagão e racionamento e ficam assustadas. Ninguém quer ficar sem energia."
Segundo a ABIMAQ, as vendas do segundo trimestre de 2021 subiram 129,27% em relação aos três primeiros meses do ano, ou 26,63% mais que nos mesmos meses de 2020.
"O receio de apagão fez muita gente comprar o produto ou entrar na fila de espera", observa Sarquez, que projeta aumento de 40% nas vendas entre julho e setembro.
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O diretor-geral da Generac no Brasil, Augusto Zucollotto, diz que a fila e os prazos de entrega não param de crescer desde abril, quando se começou a falar de crise hídrica. "O empresário quando viu que os preços subiam e se falava em possível racionamento, fechou logo seus pedidos. Quem chegou primeiro recebeu."
"Setembro agora é o último mês para quem quer uma unidade com potência menor comprar com a garantia de que vai receber em 2021. As indústrias, que precisam de motores mais fortes, só vão receber em fevereiro do ano que vem", afirma o diretor da empresa.
"Não estamos conseguindo suprir a demanda. Temos problemas diversos na cadeia de suprimentos que não foram resolvidos até hoje", lamenta.
O segmento nacional sofreu no início da pandemia de covid-19 com falta de aço, que vinha principalmente da China, país que logo no início do surto da doença fechou fábricas e reduziu todas as suas exportações. 'Essa situação está resolvida, mas a produção não voltou ao que precisávamos e os preços foram lá para cima. Agora falta também o silício, importante para as placas eletrônicas", detalha Zucollotto.
Sem as peças, os fornecedores entregam menos à Generac, que sofre por sua vez para atender aos clientes. "No caso dos motores pequenos, em geral os fabricantes estão entregando 60% a 70% do que já tínhamos pedido e programado. Hoje o que chega na fábrica a gente monta e vende na hora. Há o risco de desabastecimento, sim, sem dúvida", enfatiza.
Para a Generac, a demanda aumentou em torno de 30 a 35% em comparação com o ano passado, que mesmo com as restrições sanitárias, dizem Zucollotto, não foi tão ruim: apresentou queda de 10% nas comercializações em relação a 2019.
O executico diz que motores maiores, de 500 KVAs ou mais, já desapareceram do mercado. "São três fornecedores no país, Scania, Volve e Perkins. Ninguém está conseguindo entragar no segundo semestre mais."
Reinaldo Sarquez, da ABIMAQ, diz que a tendência do setor é focar a produção em geradores mais potentes (grupos de 700 a 1.000 KVAs), que atendam a atividades essenciais à sociedade ou à economia, como hospitais, shoppings centers e indústrias.
"Uma saída é a locação dos produtos, nicho que praticamente não existia na crise de 2001 e explodiu com o racionamento daquele ano", lembra o representante da associação, que completa a frase dizendo que mesmo essas empresas começam a ter dificuldades com a falta de produtos.