Baixa estocagem afeta empresas nacionais, como a Agrale; e unidades de multinacionais, caso da AGCO Corporation no Brasil e a John Deere, fabricantes de maquinário agrícola.
Em meio às projeções de aquecimento maior da economia, setores da indústria da transformação estão preocupados com os estoques operando no limite, ainda sem recuperar os níveis pré-pandemia. De acordo com a pesquisadora Claudia Perdigão, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o quadro pode ser constatado na Sondagem da Indústria da FGV, com dados coletados até junho.
A baixa estocagem tem afetado desde empresas 100% nacionais, como Agrale, até unidades de multinacionais, como AGCO e John Deere. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) também relatam estoques aquém do normal e demanda alta.
Segundo Perdigão, o nível de estoque - abaixo da média histórica - reflete uma combinação de custos de produção mais altos, principalmente de energia, e falta de insumos. Para ela, a médio prazo, a indústria da transformação pode ter dificuldades de atender à maior cadência de encomendas. “Se tem demanda alta em função de crescimento, você não tem plástico, borracha etc., que são as bases da nossa indústria para chegar ao produto final”, afirma o diretor de vendas da Agrale, Edson Sixto Martins.
No mês passado, o saldo dos estoques - em sondagem realizada com 1.098 empresas - ficou 1,5 ponto negativo. O indicador sugere, quando negativo, que maior fatia de companhias declarou estoques acima do normal. Mesmo assim, o dado preocupa, pois a média, antes da pandemia, era de 5,2 pontos negativos.
Além disso, diferentemente do ano passado, quando a indústria também operava com estoques baixos, não havia a atual perspectiva de um maior crescimento econômico. Em maio, a produção industrial cresceu 1,4% frente a abril, após três meses de queda, segundo o IBGE. O levantamento mostra, ainda, que o segmento de bens de capitais é um dos menos estocados. “Quando bens de capital estão escassos, isso afeta toda a cadeia produtiva”, diz Perdigão.
Fonte: Valor Econômico